Um estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que o crime organizado no Brasil está gerando mais lucros com a venda de combustíveis do que com o tráfico de cocaína. O relatório, divulgado em 12 de fevereiro de 2025, aponta que a receita anual do comércio paralelo de combustíveis e outros produtos ilícitos chega a R$ 147 bilhões, enquanto o tráfico de drogas gera cerca de R$ 15 bilhões. Essa mudança no foco das atividades criminosas levanta preocupações sobre a segurança pública e a eficácia das políticas de combate ao crime.
O setor de combustíveis e lubrificantes lidera esse comércio ilegal, com uma receita estimada em R$ 61,5 bilhões, representando 41,8% do total. Em seguida, o mercado de bebidas movimenta R$ 56,9 bilhões, enquanto a extração de ouro e o comércio de tabaco e cigarros também contribuem significativamente para os lucros das facções. Essa diversificação das atividades criminosas reflete a alta demanda e a baixa fiscalização nesses setores, tornando-os atraentes para os grupos organizados.
Nívio Nascimento, assessor de relações internacionais do FBSP, explica que a combinação de alta circulação e demanda nesses mercados, aliada ao controle estatal insuficiente, explica o interesse das facções. Embora o tráfico de drogas e armas continue sendo central para o crime organizado, a expansão para outros setores demonstra a adaptabilidade dos criminosos às condições do mercado. Essa realidade exige uma resposta mais robusta das autoridades para enfrentar a complexidade do crime organizado.
Um dos fatores que facilitam a atuação das facções nesses mercados é a leniência das penas em comparação com o tráfico de drogas. As atividades relacionadas a combustíveis, ouro e tabaco apresentam penalidades mais brandas, o que incentiva os criminosos a explorar essas áreas de alta rentabilidade. O relatório destaca a necessidade de um sistema nacional integrado de rastreamento para combater práticas como adulteração, contrabando e lavagem de dinheiro, que são comuns nesses setores.
Os dados do relatório indicam um crescimento alarmante das atividades ilícitas nos últimos anos. Aproximadamente 38% da produção nacional de ouro entre 2015 e 2020 apresenta indícios de ilegalidade, movimentando R$ 40 bilhões e impactando fortemente a Amazônia. Além disso, a comercialização ilegal de combustíveis atinge 13 bilhões de litros anuais, resultando em perdas fiscais de R$ 23 bilhões. Esses números evidenciam a urgência de ações efetivas para enfrentar o crime organizado.
O mercado ilegal de tabaco representa 40% do consumo nacional, acumulando prejuízos fiscais de R$ 94,4 bilhões nos últimos 11 anos. A falsificação e o contrabando de bebidas também geraram perdas tributárias significativas, totalizando R$ 72 bilhões apenas em 2022. Esses dados ressaltam a necessidade de uma abordagem integrada para combater o crescimento desses mercados clandestinos e proteger a economia nacional.
Além dos setores tradicionais, o relatório aponta que os crimes virtuais e os furtos de celulares geraram uma receita ainda maior para o crime organizado, totalizando R$ 186 bilhões entre julho de 2023 e julho de 2024. Essa evolução demonstra a capacidade das facções de se adaptarem às novas tecnologias e explorar brechas no sistema. A alta taxa de furtos de celulares facilita a transição para crimes digitais, ampliando o alcance das atividades ilícitas.
Para enfrentar o crescimento desses mercados clandestinos, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública sugere a incorporação de dados sobre controle de produção e rastreamento nas iniciativas de inteligência financeira. Essa proposta visa fortalecer a capacidade do Estado e das forças de segurança em mapear fluxos financeiros ilícitos e redes de comércio ilegal. A integração de informações entre órgãos como a Receita Federal e a Polícia Federal é fundamental para combater o crime organizado de forma eficaz e proteger a sociedade.