O cenário da carne no Brasil enfrenta uma nova tempestade econômica com a imposição de uma tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros vendidos aos Estados Unidos. A medida, anunciada e que entra em vigor a partir de agosto, promete mexer com os bastidores do mercado da proteína bovina, um dos mais importantes do país. O tarifaço, embora direto sobre os importadores americanos, tem repercussão inevitável no consumidor brasileiro e na cadeia produtiva nacional, trazendo impactos que vão além das fronteiras.
Apesar da sobretaxa ser direcionada às empresas americanas, o consumidor brasileiro poderá sentir os efeitos de forma indireta. A diminuição das vendas para os Estados Unidos pode levar os produtores brasileiros a reduzir o abate de bois, impactando a oferta interna da carne. Economistas e especialistas alertam que, no curto prazo, o preço da carne no Brasil pode até apresentar uma queda momentânea, motivada por uma menor demanda internacional, mas a tendência de alta para o longo prazo é mais forte e preocupante.
A queda no abate de bois prevista com o tarifaço é um dos principais motores para o aumento dos preços da carne. Isso porque os pecuaristas já vinham segurando fêmeas para reprodução, reduzindo a oferta. Com a tarifa americana, é provável que também diminuam o número de bois destinados à engorda e abate, provocando um aperto na oferta nacional. Essa combinação é capaz de elevar os custos para o consumidor final, que já enfrenta inflação nos alimentos.
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador da carne brasileira, ficando atrás apenas da China, que representa quase metade das exportações do setor. A sobretaxa americana, ao desestimular a importação, pode forçar o Brasil a buscar novos mercados ou redirecionar o volume exportado para outras regiões, como o Egito, que apresenta crescimento na demanda pela proteína. Mesmo assim, esse ajuste pode não ser suficiente para conter os efeitos negativos da medida.
Outro fator que agrava o quadro é a pressão da China para que o Brasil abaixe os preços da carne exportada, um movimento que pode frear as vendas externas temporariamente e aumentar a oferta no mercado interno, causando um efeito momentâneo de queda nos preços ao consumidor brasileiro. Ainda assim, esse alívio será passageiro, com a perspectiva de que a carne volte a subir após o ajuste no volume de abates.
Além do impacto na oferta e preço da carne, a queda no valor da ração, insumo fundamental para a engorda dos animais, também contribuiu para a redução temporária do preço do boi gordo, que caiu mais de 7% em um mês. Essa oscilação mostra a complexidade da cadeia produtiva e a sensibilidade do setor a variáveis econômicas e políticas internacionais.
O impacto financeiro para o Brasil com o tarifaço pode ser significativo, com estimativas que apontam a possibilidade de perder cerca de um bilhão de dólares em exportações de carne bovina para os EUA em 2025. Esse valor traduz não só um prejuízo econômico, mas uma ameaça à posição do Brasil como grande player no comércio internacional de proteínas.
Por fim, o tarifaço imposto pelos Estados Unidos lança uma sombra sobre a indústria da carne no Brasil, elevando a tensão entre produtores, exportadores e consumidores. O aumento esperado no preço da carne no Brasil vai refletir a combinação entre menor oferta, maior custo de produção e instabilidade nas negociações internacionais, evidenciando a interdependência do mercado doméstico com o cenário global.
Essa nova realidade exige do setor brasileiro ajustes rápidos e estratégias eficazes para minimizar os impactos e preservar o acesso a mercados externos, enquanto tenta proteger o consumidor interno das altas no preço da carne. O tarifaço dos EUA é, sem dúvida, um desafio que pode modificar profundamente o panorama da carne no Brasil nos próximos meses.
Autor: Floria Paeris