O Carnaval, uma das festas mais emblemáticas do Brasil, tem raízes profundas que remontam à Europa medieval, mas sua chegada oficial ao país ocorreu no período colonial. A celebração foi trazida pelos portugueses no início do século XVI, entre 1500 e 1530, sob a forma do Entrudo. Essa brincadeira, típica de Portugal, envolvia jogos com água, farinha e até frutas podres, marcando um momento de subversão social antes da Quaresma. No Brasil, o Entrudo encontrou terreno fértil entre colonos e escravizados, mas logo começou a se transformar. Era uma festa rústica, sem a sofisticação atual. Sua adaptação local deu os primeiros passos para o Carnaval que conhecemos.
O termo “Carnaval” deriva do latim “carne vale”, que significa “adeus à carne”, ligado à preparação para os 40 dias de jejum cristão. Na Europa, a festa já era marcada por excessos e inversões de papéis sociais desde a Idade Média. Em Portugal, o Entrudo era a versão popular dessa tradição, com forte influência católica. Ao chegar ao Brasil, ele manteve essa essência de catarse, mas ganhou traços únicos ao se misturar com costumes indígenas e africanos. A data exata de sua introdução é incerta, mas registros apontam sua prática desde os primeiros anos da colonização. Assim, o Carnaval começou como uma herança europeia adaptada.
No século XVII, o Entrudo já era comum nas vilas e cidades coloniais brasileiras, como Salvador e Recife. A brincadeira, porém, era vista como desordeira pelas elites, que tentaram controlá-la ou bani-la. Documentos da época mostram reclamações sobre os “excessos” nas ruas, com pessoas jogando água suja e outros materiais. Apesar das restrições, a festa resistiu, especialmente entre as camadas populares e os escravizados. Esses grupos começaram a incorporar elementos de suas culturas, como danças e ritmos, ao Entrudo. Foi o germe de uma celebração mais diversa e brasileira.
A transformação do Entrudo em Carnaval como o conhecemos ganhou força no século XIX, com a urbanização e a influência de outras tradições europeias. Na corte do Rio de Janeiro, a elite passou a importar bailes de máscaras de Paris e Veneza, trazendo um ar mais sofisticado à festa. Enquanto isso, nas ruas, o povo criava suas próprias manifestações, como os cordões e ranchos, que misturavam música e teatralidade. O samba, nascido nas comunidades negras, começou a surgir nessa época, ainda tímido. O Carnaval brasileiro deixava de ser apenas uma bagunça para se tornar uma expressão cultural complexa.
No início do século XX, o Carnaval já tinha características bem definidas no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, que se tornaria sua capital simbólica. As escolas de samba surgiram na década de 1920, organizando desfiles que uniam ritmo, fantasia e competição. O samba se consolidou como o som oficial da festa, impulsionado por compositores como Cartola e Noel Rosa. A influência africana, antes sutil, passou a ser protagonista, com batuques e passos de dança marcando os cortejos. A festa ganhava uma identidade nacional, distinta do Entrudo original. Era o Carnaval brasileiro em plena formação.
Fora do Rio, outras cidades desenvolveram suas versões únicas do Carnaval, enriquecendo a celebração. Em Salvador, os trios elétricos, que surgiram na década de 1950 com Dodô e Osmar, revolucionaram a festa baiana, trazendo axé e multidões às ruas. Recife e Olinda destacaram-se com o frevo e os blocos de rua, como o Galo da Madrugada, valorizando tradições locais. São Paulo, mais tarde, também entrou na rota com seus desfiles de escolas de samba. O Carnaval deixou de ser uma importação para se tornar um mosaico cultural. Cada região deu sua contribuição à festa.
A chegada “oficial” do Carnaval ao Brasil, portanto, pode ser situada no século XVI com o Entrudo, mas sua consolidação como festa nacional é um processo longo e contínuo. Ele reflete a miscigenação do país, unindo heranças portuguesa, africana e indígena em uma celebração única. Hoje, o Carnaval é patrimônio cultural, reconhecido mundialmente por sua energia e criatividade. Dos bailes de gala aos blocos de rua, ele mantém a essência de liberdade e renovação. Não é apenas uma data, mas um símbolo da identidade brasileira. Sua história ainda está sendo escrita.
Por fim, o Carnaval brasileiro transcende suas origens europeias, mostrando como uma tradição pode se reinventar em outro contexto. Do Entrudo bagunceiro ao espetáculo dos desfiles e trios, ele evoluiu com o tempo e o povo. É uma festa que celebra a diversidade, a resistência e a alegria, mesmo diante de desafios históricos como proibições ou desigualdades. Em 2025, ao som de tambores e frevos, o Brasil reafirma essa herança. Conhecer sua origem é entender um pedaço da alma nacional. Que venha o próximo capítulo dessa folia!