O ‘RG do boi’ é uma iniciativa recente do governo brasileiro que visa implementar um sistema de rastreabilidade individual para bovinos e búfalos. Lançado após dois anos de discussões, esse plano tem como objetivo identificar e rastrear cada animal desde o nascimento até o abate. Essa medida é uma resposta às pressões de ambientalistas e do mercado externo, que exigem maior transparência e responsabilidade na cadeia produtiva da carne. A rastreabilidade é vista como uma ferramenta essencial para garantir que a carne consumida no Brasil e exportada para outros países não esteja associada ao desmatamento ilegal na Amazônia.
Atualmente, a rastreabilidade dos animais é realizada por meio da Guia de Trânsito Animal (GTA), que permite o transporte de bois e búfalos, mas não fornece informações detalhadas sobre cada animal individualmente. A GTA é emitida por lotes, o que limita a capacidade de monitorar a origem e o histórico de cada bovino. Com a nova proposta, cada animal receberá um “brinco-RG”, que conterá informações como data e local de nascimento, sexo, espécie e vacinas, permitindo um controle mais rigoroso e eficaz.
A implementação do ‘RG do boi’ é considerada um avanço significativo para a pecuária brasileira, especialmente em relação ao mercado internacional. A rastreabilidade individual permitirá que o Brasil atenda às exigências de países que demandam garantias de que a carne não provém de áreas desmatadas. A gerente de Políticas Públicas do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Marina Guyot, destaca que essa iniciativa representa um compromisso do governo com a qualidade da informação na cadeia de produção da carne.
Além de atender às demandas do mercado externo, a rastreabilidade individual também é fundamental para o controle de doenças. Com informações precisas sobre a movimentação dos animais, as autoridades poderão agir rapidamente em caso de surtos sanitários, protegendo a saúde pública e a integridade do rebanho. Essa abordagem proativa é essencial para garantir a segurança alimentar e a confiança dos consumidores na carne brasileira.
A nova regulação também surge em um contexto de crescente pressão internacional para combater o desmatamento ilegal. A União Europeia, por exemplo, aprovou um regulamento que proíbe a importação de produtos derivados de áreas desmatadas após 2020. Essa legislação reforça a necessidade de um sistema de rastreabilidade eficaz, que permita identificar a origem da carne e garantir que ela não esteja associada a práticas ilegais. O ‘RG do boi’ é, portanto, uma resposta a essas exigências e um passo importante para a sustentabilidade da pecuária.
No entanto, a implementação do ‘RG do boi’ enfrenta desafios significativos. O prazo estabelecido para a total implementação do sistema é de oito anos, o que levanta preocupações sobre a agilidade e a eficácia do processo. Especialistas, como o procurador do Ministério Público Federal, Daniel Azeredo, sugerem que prazos mais curtos poderiam ser estabelecidos para os municípios que mais desmatam na Amazônia, acelerando a adoção do sistema em áreas críticas.
Outro ponto de atenção é a tecnologia utilizada para a rastreabilidade. A eficácia do sistema dependerá da capacidade de monitorar a movimentação dos animais em tempo real e de garantir que as informações sejam atualizadas com frequência. A falta de transparência e a possibilidade de burla ao sistema são preocupações que precisam ser abordadas para que o ‘RG do boi’ cumpra seu papel de forma efetiva.
Em resumo, o ‘RG do boi’ representa uma mudança significativa na forma como a pecuária é gerida no Brasil. A rastreabilidade individual de bovinos e búfalos é uma resposta às demandas do mercado e uma ferramenta essencial para combater o desmatamento ilegal. Embora a iniciativa tenha o potencial de transformar a indústria da carne, sua implementação bem-sucedida dependerá de um compromisso contínuo com a transparência, a tecnologia e a agilidade nas ações.